Saturday, August 05, 2006

Mal atroz

Pai, ainda me lembro ,
você acordado...
Com o violão a cantar,
a embalar–me com cantigas de ninar.
Quanta maestria em seus acordes ,
Em seu exímio dedilhar,
Quanta alegria em seu olhar!
Nas cordas de aço você
colocava o teu coração de manteiga
No teu canto, a tua voz doce e meiga!
E tocavas aquelas canções tão lindas...
Branca, Sta Terezinha...Cabocla Tereza
Canções que hoje ouço com profunda tristeza!
Nas batidas compassadas do teu violão,
tu colocavas o ritmo do teu viver!
Um viver sofrido, duro, árduo... !
A terra era por ti lavrada,
levada
com a enxada,
E lavada com o teu suor!
Com uma ferramenta especial --
o teu coração--
Tu semeavas a semente...
Cultivavas o feijão,
O arroz, o milho, o café,
E, com grande esperança e fé,
Aguardavas o seu germinar!
Se assim Deus o permitisse...
Se a seca não roubasse o teu sono
Se a geada não torrasse teus sonhos,
Se a chuva não levasse a tua esperança
Teríamos colheita farta...
Teríamos comida em abundância!
Ao chegar em casa,
Esquecias o teu cansaço,
E brincavas conosco feito palhaço...
Feito uma criança,
Narrando-nos tuas histórias tão belas--
A Comadre Onça e o Compadre Macaco,
A Festa no Céu, Cinderela,
E tantas outras mais
Que não posso esquecer jamais!
Hoje Pai, não ouço mais o teu cantar
Não ouço mais o teu violão...
Não ouço mais as tuas histórias,
Não vejo mais o brilho em teu olhar...
O mal atroz roubou-te a tua memória!

Bem-te-vi-Benvinda Palma
Adm.SPP
))§((

2 comments:

Anonymous said...

Como posso comentar este teu poema, como posso falar sem soluçar... estas palavras que me tiraram a razão, deixaram-me a simplória emoção regada aos olhos úmidos!

Como falar, comentar, retirar uma palavra sequer da garganta, onde as cordas vocais não trabalham, presas, sem acordes? Mas , em razão, o pouco que me restou após respirar e fechar meus olhos, foi uma única e pequena palavra: LINDO!!!

Parabéns!

^^Ludiro^^

Anonymous said...

Linda saudade Benvinda Poeta!
li inicialmente no Blocos
passei para congratular-te,
afetuoso abraço,
tua sempre leitora e amiga,
virgínia além mar