Monday, February 06, 2006

Chuva Assassina

Uma boneca.
Uma linda boneca, de verdade!
Uma boneca de olhos azuis, de vidro!
De cetim rosa seu vestido
Sapatos brancos, de bailarina!
Uma boneca cobiçada, de vitrina!
Este era o sonho daquela menina!
A mãe, pobre, vendia ovos caipiras.
Para um certo caixeiro- viajante
Que amiúde passava com alto-falante
Vendendo e comprando mercadorias.
Depois de meses de economia
Chegara o grande e tão esperado dia!
De acabar de vez com aquela agonia
De ver a filha doente, com lombrigas
Febre e fortes dores de barriga!
Os olhos anêmicos, opacos, agora
Brilhavam, como os raios de sol da manhã
Uma coisa de louca!, uma coisa de louça!
Não, não era, de gesso, ou papelão?
Mas não houve advertência
A mãe e a boneca sem instrução!
Aí, numa tarde quente de verão
A chuva tempestuosa, cruel, ingrata
Foi a grande assassina, insensata!
Tira daquela menina inocente
O sonho de tão-somente brincar!

Benvinda Palma

No comments: